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As manifestações no país: por Nelson Nhachale

 

Escrevi este texto em resposta a um áudio que recebi de um jovem, aparentemente membro das forças de defesa do país (salve-me o erro, caso esteja equivocado). Em suma, no áudio, ele criticava as manifestações. Para não falar de forma particular sobre o meu posicionamento como escritor, gostaria de esclarecer que escrevi cerca de quatro poemas em defesa do povo. Não me considero um poeta se colocar algemas nas palavras; ainda assim, não julgo os que criticam as manifestações. Prefiro entendê-los, pois, honestamente, seria um absurdo esperar que os 33 milhões de moçambicanos pensassem da mesma forma sobre qualquer assunto.

Diante disso, elaborei vários fragmentos de textos, nos quais apresentei o meu parecer sobre o caso. Após revisá-los e aprimorá-los, reuni-os em um único documento, que deu origem a este texto.

Começaria pedindo, àqueles que julgam as manifestações, seja por quais motivos forem, que não exijam demais deste povo. Ele já atingiu o limite de sua tolerância e, a meu ver, está no pleno direito de se manifestar dessa forma. Aliás, digo mais: essa manifestação já vem tarde. Com base no que sei, no que vejo e no que sinto, não há como permanecer calado diante de um país marcado pela injustiça, pela arbitrariedade e por atrocidades de proporções inimagináveis. O cúmulo nisso, é ter alguém criticando os que se manifestam e os que apoiam tal acto, é preciso entender que não tem como ver moçambicanos a morrer e a crítica ir na direcção dos que estão sendo vítimas nisto tudo.

Mas afinal, quem é vítima? Talvez para alguns seja tema de debate, mas para mim, claramente a vítima é o povo.

Vítima de assassinatos em todos os níveis, assassinado em acordos obscuros, que lhes tiram a terra, lhes pilham os recursos e lhes exploram a mão-de-obra. Como baratas, mal podem reclamar, porque quando assim o fazem, são chamados de vândalos, malfeitores e são encarcerados. São privados de liberdade, têm a internet cortada, são expostos a gás e atingidos por balas que dizem ser “perdidas”. Na verdade, essas balas são diretamente apontadas contra o povo. Em plena luz do dia, os assassinos ainda manipulam a verdade em seu favor. Ainda assim, pedem calma, pois parece que o povo está com pressa. Mas, como ter calma, como seguir orientações de quem rasga a constituição e toda a máquina da justiça, funciona ao seu favor? É preciso ser dito, sem amarras nas palavras, que a polícia está agindo mal, muito mal, atirando para matar o povo desarmado, o mesmo que devia proteger...

Ora vejamos, nos lugares onde a polícia simplesmente se dedica a acompanhar a marcha, não há nenhuma bala perdida. A postura da polícia, dita apostura dos manifestantes. E a maior prova dos “insultos” do policia contra o povo e que tal insulto é comprado pelos que apoiam o regime. Aparecer a dizer que a policia agiu em legítima defesa é um insulto, isso até Deus, diz meu Deus! A situação que gera esse alvoroço (os resultados dos votos) não é diferente. É preciso usar óculos de madeira para ignorar que, em todos os casos, é a polícia quem começa a atirar nas pessoas. É necessário ser extremamente fanático e partidário para não enxergar que, em todos os cantos, o povo está cansado do sistema atual e clama por alternância. Essa mudança foi encontrada na postura e nos sábios dizeres do VM7.

A população chega a queimar pneus, colocar barricada na via, porque simplesmente a polícia monta impedimentos e isso gera fúria, onde 50 pessoas que se acham injustiçadas são forçadas a assistir o “injustiçador” lhes importunando. Como acham que isso vai acabar? É uma análise muito simples de ter-se a resposta óbvia.

O povo vai à rua, seguindo as orientações de quem, neste momento, colhe algum consenso da população, alguém cujas ideais são aglutinadoras. Essas premissas de que estão seguindo a voz de alguém com a vida feita, que vive fora do país enquanto o povo aqui está morrendo, precisam ser repensadas. Meus senhores, entendam: esse homem, ao contrário dos outros ligados ao sistema, está do lado do povo, e isso é o que realmente importa. Se for mero teatro ou um show de enganação, isso será revelado no futuro. No momento, a luta é contra o verdadeiro inimigo do povo: aquele que o enganou e o desgraçou ao longo de várias décadas.

 Talvez aqueles que criticam o povo não compreendam que tudo o que foi feito até agora neste país não foi um favor. Trata-se de um dever, uma obrigação do governo com o povo. No entanto, essa obrigação nunca foi, e ainda não é, cumprida de forma integral. Por isso, o povo continua na miséria, enquanto os governantes vivem na fartura. É exatamente dessa situação que o povo se cansou, dessa humilhação que se fartou. No intitulado candidato do povo, encontrou o oposto de tudo isso.

As pessoas sabem por que vão às ruas. Elas não estão simplesmente seguindo um comando às cegas. Se o povo não acreditasse que está fazendo o certo por si mesmo, acreditem: ninguém arriscaria a própria vida apenas porque o VM7 pediu. É enganoso pensar que as pessoas vão às ruas porque alguém mandou. Elas vão porque acreditam que, para mudar alguma coisa, é necessário gritar e mostrar sua indignação.

Infelizmente, nem tudo acontece como deveria. A ideia de manifestações pacíficas não se reflete na prática devido à atuação da polícia. Quando há tumultos, os oportunistas sempre aparecem. Isso acontece em qualquer lugar do mundo. Até dentro do próprio sistema há quem tire proveito dessa confusão (me arrisco a dizer). Quanto mais o ladrão do bairro, o faminto ou o desempregado, que aproveita a situação para saquear.

Infelizmente, e com muita tristeza, assistimos a situações de vandalismo e roubos. No entanto, isso não é culpa de quem convoca as manifestações, tampouco dos que participam com o objetivo legítimo de protestar. Todos sabemos que esses atos são praticados por oportunistas. Ainda assim, preferem apontar culpados, como se em tempos normais não víssemos casos semelhantes de vandalismo e roubos. E digo mais: esses oportunistas infiltrados estão em todos os lugares. Alguns até vestem fardas. Como já disse, nesse momento, aproveitadores surgem de todas as partes.

Com tudo o que está acontecendo no país, é evidente que os que mandam foram pegos de surpresa. As recentes provas (300kg) recolhidas ao CC, as manifestações amplamente aderidas em quase todo o território, e uma corrente de solidariedade jamais vista revelam um povo determinado e corajoso, disposto a lutar pelo que acredita. No entanto, os mais atentos não estão tão surpresos. Essa situação foi sendo construída pelo próprio sistema, com suas ações. Agora, o povo está decidido a fazer o sistema “dormir na cama que preparou.” Enquanto essa determinação persistir, viveremos em um mar de incertezas, em um cenário preocupante e assustador. Tudo isso enquanto as lentes do mundo estão voltadas para nós.

Sobre o amanhã, não sei muito, a certeza que levo é que nesta batalha, um lado terá que saber ceder e se isso não acontecer do lado certo, os próximos anos, poderão ser ainda mais assustadores do que a actual realidade.

Haja bom senso! Haja empatia! Por um Moçambique Melhor para Todos!


Por: Nelson Nhachale

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