Escrevi
este texto em resposta a um áudio que recebi de um jovem, aparentemente membro
das forças de defesa do país (salve-me o erro, caso esteja equivocado). Em
suma, no áudio, ele criticava as manifestações. Para não falar de forma
particular sobre o meu posicionamento como escritor, gostaria de esclarecer que
escrevi cerca de quatro poemas em defesa do povo. Não me considero um poeta se
colocar algemas nas palavras; ainda assim, não julgo os que criticam as
manifestações. Prefiro entendê-los, pois, honestamente, seria um absurdo
esperar que os 33 milhões de moçambicanos pensassem da mesma forma sobre
qualquer assunto.
Começaria
pedindo, àqueles que julgam as manifestações, seja por quais motivos forem, que
não exijam demais deste povo. Ele já atingiu o limite de sua tolerância e, a
meu ver, está no pleno direito de se manifestar dessa forma. Aliás, digo mais:
essa manifestação já vem tarde. Com base no que sei, no que vejo e no que
sinto, não há como permanecer calado diante de um país marcado pela injustiça,
pela arbitrariedade e por atrocidades de proporções inimagináveis. O cúmulo
nisso, é ter alguém criticando os que se manifestam e os que apoiam tal acto, é
preciso entender que não tem como ver moçambicanos a morrer e a crítica ir na direcção
dos que estão sendo vítimas nisto tudo.
Mas
afinal, quem é vítima? Talvez para alguns seja tema de debate, mas para mim,
claramente a vítima é o povo.
Vítima
de assassinatos em todos os níveis, assassinado em acordos obscuros, que lhes
tiram a terra, lhes pilham os recursos e lhes exploram a mão-de-obra. Como
baratas, mal podem reclamar, porque quando assim o fazem, são chamados de
vândalos, malfeitores e são encarcerados. São privados de liberdade, têm
a internet cortada, são expostos a gás e atingidos por balas que dizem ser
“perdidas”. Na verdade, essas balas são diretamente apontadas contra o povo. Em
plena luz do dia, os assassinos ainda manipulam a verdade em seu favor. Ainda
assim, pedem calma, pois parece que o povo está com pressa. Mas, como ter
calma, como seguir orientações de quem rasga a constituição e toda a máquina da
justiça, funciona ao seu favor? É preciso ser dito, sem amarras nas palavras,
que a polícia está agindo mal, muito mal, atirando para matar o povo desarmado,
o mesmo que devia proteger...
Ora
vejamos, nos lugares onde a polícia simplesmente se dedica a acompanhar a
marcha, não há nenhuma bala perdida. A postura da polícia, dita apostura dos
manifestantes. E a maior prova dos “insultos” do policia contra o povo e que
tal insulto é comprado pelos que apoiam o regime. Aparecer a dizer que a
policia agiu em legítima defesa é um insulto, isso até Deus, diz meu Deus! A
situação que gera esse alvoroço (os resultados dos votos) não é diferente. É
preciso usar óculos de madeira para ignorar que, em todos os casos, é a polícia
quem começa a atirar nas pessoas. É necessário ser extremamente fanático e
partidário para não enxergar que, em todos os cantos, o povo está cansado do
sistema atual e clama por alternância. Essa mudança foi encontrada na postura e
nos sábios dizeres do VM7.
A população
chega a queimar pneus, colocar barricada na via, porque simplesmente a polícia
monta impedimentos e isso gera fúria, onde 50 pessoas que se acham injustiçadas
são forçadas a assistir o “injustiçador” lhes importunando. Como acham que isso
vai acabar? É uma análise muito simples de ter-se a resposta óbvia.
O povo
vai à rua, seguindo as orientações de quem, neste momento, colhe algum consenso
da população, alguém cujas ideais são aglutinadoras. Essas premissas de que
estão seguindo a voz de alguém com a vida feita, que vive fora do país enquanto
o povo aqui está morrendo, precisam ser repensadas. Meus senhores, entendam:
esse homem, ao contrário dos outros ligados ao sistema, está do lado do povo, e
isso é o que realmente importa. Se for mero teatro ou um show de enganação, isso será revelado no futuro. No momento, a luta
é contra o verdadeiro inimigo do povo: aquele que o enganou e o desgraçou ao
longo de várias décadas.
Talvez aqueles que criticam o povo não
compreendam que tudo o que foi feito até agora neste país não foi um favor.
Trata-se de um dever, uma obrigação do governo com o povo. No entanto, essa
obrigação nunca foi, e ainda não é, cumprida de forma integral. Por isso, o
povo continua na miséria, enquanto os governantes vivem na fartura. É
exatamente dessa situação que o povo se cansou, dessa humilhação que se fartou.
No intitulado candidato do povo, encontrou o oposto de tudo isso.
As
pessoas sabem por que vão às ruas. Elas não estão simplesmente seguindo um
comando às cegas. Se o povo não acreditasse que está fazendo o certo por si
mesmo, acreditem: ninguém arriscaria a própria vida apenas porque o VM7 pediu.
É enganoso pensar que as pessoas vão às ruas porque alguém mandou. Elas vão
porque acreditam que, para mudar alguma coisa, é necessário gritar e mostrar
sua indignação.
Infelizmente,
nem tudo acontece como deveria. A ideia de manifestações pacíficas não se
reflete na prática devido à atuação da polícia. Quando há tumultos, os
oportunistas sempre aparecem. Isso acontece em qualquer lugar do mundo. Até
dentro do próprio sistema há quem tire proveito dessa confusão (me arrisco a
dizer). Quanto mais o ladrão do bairro, o faminto ou o desempregado, que
aproveita a situação para saquear.
Infelizmente,
e com muita tristeza, assistimos a situações de vandalismo e roubos. No
entanto, isso não é culpa de quem convoca as manifestações, tampouco dos que
participam com o objetivo legítimo de protestar. Todos sabemos que esses atos
são praticados por oportunistas. Ainda assim, preferem apontar culpados, como
se em tempos normais não víssemos casos semelhantes de vandalismo e roubos. E
digo mais: esses oportunistas infiltrados estão em todos os lugares. Alguns até
vestem fardas. Como já disse, nesse momento, aproveitadores surgem de todas as
partes.
Com
tudo o que está acontecendo no país, é evidente que os que mandam foram pegos
de surpresa. As recentes provas (300kg) recolhidas ao CC, as manifestações
amplamente aderidas em quase todo o território, e uma corrente de solidariedade
jamais vista revelam um povo determinado e corajoso, disposto a lutar pelo que
acredita. No entanto, os mais atentos não estão tão surpresos. Essa situação
foi sendo construída pelo próprio sistema, com suas ações. Agora, o povo está
decidido a fazer o sistema “dormir na cama que preparou.” Enquanto essa
determinação persistir, viveremos em um mar de incertezas, em um cenário
preocupante e assustador. Tudo isso enquanto as lentes do mundo estão voltadas
para nós.
Sobre
o amanhã, não sei muito, a certeza que levo é que nesta batalha, um lado terá
que saber ceder e se isso não acontecer do lado certo, os próximos anos,
poderão ser ainda mais assustadores do que a actual realidade.
Haja
bom senso! Haja empatia! Por um Moçambique Melhor para Todos!
Por: Nelson Nhachale
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